Ao Som dos Bandolins
Na resenha dessa semana eu vou falar resumidamente sobre a história do Bandolim, um instrumento que foi de suma importância na construção da linguagem da Música Popular Brasileira, sendo inclusive um dos símbolos do Choro,além de ser minha paixão pessoal, junto com a Guitarra Baiana.
A história do Bandolim Remonta a vários séculos atrás, podemos dizer inclusive que se confunde com a própria história da civilização humana, pois ele é descendente do Alaúde que por sua vez tem suas raízes históricas no Rabât Arábe, bem como na Mandora Medieval e Renascentista. Todos esses instrumentos têm origem nos Cordofones primitivos da região mesopotâmica. A Mesopotâmia é considerada um dos berços da civilização, já que foi lá onde surgiram as primeiras civilizações por volta do sexto milênio A.C.. As primeiras cidades foram um resultado culminante da sedentarização da população e de uma revolução agrícola, que se originou durante a Revolução Neolítica. O homem deixava de ser um coletor que dependia da caça e dos recursos naturais oferecidos e uma nova forma de domínio do ambiente foi uma das causas possíveis da eclosão urbana na Mesopotâmia.
Mas voltando a história do instrumento, vou me ater a falar especificamente do Bandolim moderno, o que conhecemos e está arraigado em nossa cultura. Como já foi citado, o Bandolim se deu como uma evolução direta dos Alaúdes e tem sua trajetória iniciada à partir do século XVI no sul da Itália, que sofria forte influência da cultura Árabe. Ela se torna muito confusa, por conta da vasta variedade de modelos, afinações, número de cordas, formas de tocar e acessórios utilizados, já que cada cidade italiana tinha sua própria “escola” na construção desses instrumentos. Dessa maneira temos conhecimento de diversos modelos como os Cremoneses, Napolitanos, Milaneses, Romanos, Sicilianos, Florentinos e por aí vai. Desses, podemos destacar os dois modelos que vingaram, o Bandolim Milanês e o Napolitano; o primeiro tendo sua construção ainda baseada no Alaúde, com o fundo Fortemente Abaulado, escala sem trastes e 05 pares de cordas de tripa tocadas com os dedos e afinação em quartas. Foi na segunda metade do século XVIII que o mundo vê na nascer o Mandolino de Nápoles, que conhecemos como Bandolim Napolitano, esse já com 04 pares de cordas metálicas tocadas com palheta, afinação em quintas (semelhante a afinação do Violino), mas ainda mantendo o padrão do fundo periforme e arqueado, tal qual os já antigos alaúdes.
Uma observação bacana de se fazer à cerca desse período é o fato de que alguns dos mais importantes compositores da história da música de concerto escreveram peças para o instrumento, o que é em geral pouco lembrado. Dentre eles estavam nomes do calibre de Vivaldi, Mozart, Beethoven, Haendel, Verdi e Paisiello.
Avançando um pouco no tempo, o que se sabe é que dentre os dois tipos de Bandolim, foi o Napolitano que viajou e ganhou o mundo, à exemplo de Portugal, que o desenvolveu de forma única. Nesse ponto o Bandolim assume um desenho em forma de Gota d´agua ou Cebola, e fundo chato, tornando-se um instrumento semelhante a famosa Guitarra Portuguesa, que já era um instrumento amplamente utilizado em Portugal, nas músicas populares, como o Fado e também em boa parte da Europa.
Com os imigrantes portugueses ele ganhou as Américas, e a graça dos Estadunidenses, que passaram a confeccioná-lo em semelhança aos já pouco utilizados naquele período, os Bandolins Milaneses, tendo a empresa Gibson (Hoje uma famosa marca de Guitarras Elétricas), como a pioneira na linha de produção desses instrumentos, seguindo o padrão achatado de Portugal, porém com formas modernas e um produto sonoro final diferenciado dos demais, favorecendo as freqüências médias e se tornando largamente utilizado por músicos de Country-Music e Bluegrass, por exemplo.
Já no Brasil, assim como o Cavaquinho, sua chegada se deu em 1808 junto com a corte portuguesa que trazia na bagagem os instrumentos e as músicas já tradicionais na Europa, como o Clarinete, Violão, Piano e os gêneros Valsa, Fado, Polka, Fox-Trote e etc.
No final do século XIX com o Chorinho cada vez mais disseminado pelas ruas do Rio de Janeiro e ganhando as rádios de todo o Brasil, o Bandolim encontrou sua morada, primeiramente sendo utilizado como ferramenta de acompanhamento, sempre fazendo as harmonias pros demais instrumentos. Foi pelas mãos do Recifense Luperce Miranda, um grande virtuoso que era conhecido pela alcunha de Paganini do Bandolim, compositor de grandes obras, como Desvairada, que ele alcançou o seu posto de solista e um pouco mais à frente conheceu aquele que seria o seu grande representante, o homem para quem gentilmente cedeu o seu nome, Jacob do Bandolim. Sem sombra de dúvidas, Jacob do Bandolim foi e é o maior nome do instrumento, compôs uma infinidade de grandes pérolas do Chorinho como Assanhado e Noites Cariocas e segue sendo até hoje uma das maiores escolas tanto para músicos já consagrados, como pros que estão trilhando os primeiros passos no gênero.
Um dos grandes continuadores desse legado é o virtuoso músico e artista, Armandinho Macêdo. O baiano é conhecido desde a década de 60, quando tirou uma festejada e aplaudida de pé, segunda colocação em um concurso nacional no saudoso programa de Flávio Cavalcante com apenas 14 anos, sendo o único instrumentista concorrendo e ganhando contrato de gravação para um compacto e posteriormente um Long Play. Mais tarde, já na década de 70, formou um conjunto que daria nova vida e fôlego ao Choro e à MPB, junto com Mú e Dadi Carvalho, Gustavo Schroeter e Ary Dias, ganhou o Brasil e o mundo com A Cor do Som.
A banda teve grande aceitação da mídia e do público, com um som que era novidade pura, pois misturavam Choro, Baião, Frevo e MPB em geral, com o Rock n´ Roll e a Pop Music, dando roupagens elétricas e extasiadas para os grandes clássicos do Bandolim e com suas composições autorais.
Chorões mais tradicionais torceram um pouco o nariz para o conjunto, mas os meninos ganharam o apoio de Waldir Azevedo, que foi um visionário àquela altura e assim obtiveram êxito em espalhar para todo o Brasil e o mais importante, entre os jovens, a semente do Chorinho.
Por influência de Armandinho, incontáveis jovens tomaram suas atenções para o Choro e a Música Popular Brasileira, conhecendo todo o legado deixado pelos grandes mestres e inciando os estudos. O músico também teve papel imprescindível para o Bandolim, ao implementar um quinto par de cordas ao mesmo nos idos de 1994, o chamando de Bandolim Didez. Hoje o cenário para o Choro e para o Bandolim, por conseqüência, é muito amplo e cada vez mais procurado por garotos que querem escapar um pouco da saturação midiática, e manter a chama da boa música brasileira viva.
Figuram entre os grandes nomes do Bandolim, atualmente, além de Armandinho, Hamilton de Holanda, Dudu Maia, Danilo Brito, Déo Rian, Ronaldo do Bandolim e uma infinidade de músicos, seria impossível citar todos nessa resenha, aqui no estado de Sergipe temos músicos que estão sempre na batalha, erguendo a bandeira do Bandolim e do Choro, como Pisca Viana, Lito Nascimento (Ex-Trio Elétrico Tapajós), Cruz Nascimento, Fernando Freitas, Difan entre outros. Destaco também, como exemplo da nova safra de bandolinistas, o menino Ian Coury. Esse pequeno brasiliense foi diretamente inspirado por Armandinho Macêdo e Hamilton de Holanda e já está dando o que falar, vale a pena conferir!!
Em 2015, tive a felicidade de finalizar uma árdua pesquisa que me tomou quase 4 anos de muito trabalho,dedicação e paciência, o meu Bandolim de Dez Cordas, que terá como parte da pesquisa à início, o músico Hamilton de Holanda e já possui um exemplar como sendo o instrumento oficial de Armandinho. Apresento pra vocês esse Bandolim, em forma de vídeo no começo da resenha.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima!!!!